quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Antigamente...

As janelas trancadas já não intimidavam o pequeno João. Já foi precavido e levou seus instrumentos de abrir fechaduras e travas, que ele mesmo construiu. Já tantas vezes abriu portas e janelas trancadas que se tornou habilidoso. Habilidade e instrumentos simples eram tudo que precisava, já que não estamos falando da Curitiba de hoje, mas a de antigamente, seja lá o que isso significa.
Lá estava ele novamente, entrando em uma casa desconhecida. Já não pode mais freqüentar as casas de sempre, para não levantar suspeitas. Tinha um objetivo simples: entrar, procurar dinheiro e objetos de valor que sempre estavam nos quartos e sair antes que alguém reparasse. Até algumas semanas João desfrutava da adrenalina que corria por suas veias ao fazê-lo. Era como um jogo. Conseguir o prêmio sem ser visto e fugir, tudo criativamente dramatizado. E naquela época não existiam nem mesmo os jogos de computador para culpar de má influência.
Porém naquele dia João não estava tão empolgado com a façanha. Isto porque ouviu algumas coisas de seus colegas na escola que o deixaram inquieto. Começou mesmo a se perguntar sobre as pessoas que moravam naquela casa. Quem eram? Como viviam? Ele nunca tinha pensado sobre isso porque tinha o costume de entrar em casas estranhas desde que podia se lembrar. Seus colegas da escola certamente o julgariam, mas o que eles sabiam? Tinham seus pais trabalhando e ganhando o sustento da família, permitindo que suas mães cuidassem tranquilamente de seus irmãos. Mas João perdeu o pai quando ainda era muito pequeno e sua mãe tinha que trabalhar. Ele ajudava a família desta forma, usando sua grande habilidade.
Sem perceber o tempo que perdera pensando em tais problemas, João ouviu um barulho de uma pessoa no aposento ao lado. Estivera tão imerso em suas reflexões que demorou alguns segundos para recordar-se de como tinha feito para entrar e como poderia sair. No meio do caminho derrubou um vaso que estava em cima de uma mesa e fez tanto barulho que um homem saiu da cozinha gritando e mexendo numa arma que era obviamente muito complexa para ser usada em um momento de tanta tensão. João conseguiu escapar e correu sem rumo pelas ruas curitibanas pouco movimentadas. Quando já atingiu uma distância de razoável segurança começou a se preocupar, não com a possibilidade de ter sido reconhecido, mas com a próxima casa que iria conseguir entrar, já que sabia a tristeza que era voltar à sua família de mãos abanando.

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