segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Noite

Ao passar pela porta de entrada o som da chuva lá fora é abafado pelo barulho da multidão. O cheiro dos corpos em movimento atinge Melissa, mas ela já não se preocupa com isso. Qualquer outra pessoa se perguntaria o que estaria fazendo ali, mas Melissa nunca ocupa sua cabeça pensando em onde deveria estar. Para ela, na maior parte do tempo, o que acontece ao redor não desperta tanto interesse quanto aquilo que está da pele para dentro. Certamente psiquiatras têm teorias com nomes impronunciáveis para definir isso, mas os psiquiatras com seus termos fazem parte do mundo de fora, e junto com todo o resto, para Melissa, são irrelevantes.  

Melissa sente-se invisível. Não por crise de auto-estima ou por não se considerar importante. Ao contrário. Essas pessoas todas não lhe são importantes e se ela entra num salão cheio e não enxerga ninguém, então também ninguém a enxerga.

Da pele para dentro tem sempre muita coisa acontecendo. Tanto e tão rápido que às vezes Melissa gostaria que parasse. De tudo que acontece do lado de fora algumas coisas a tocam com mais intensidade. A música, nestas ocasiões, é a primeira. Tem um grande poder de penetrar aquela espessa camada de isolamento. E também, algumas vezes, principalmente nos momentos mais inesperados, um olhar. Um olhar que é como um ímã, uma poderosa troca de energia, e Melissa sente toda sua consciência se realocando. É neste momento que toda sua atenção deixa de estar da pele para dentro e passa a estar, simplesmente, na pele. Melissa se recorda do quanto o mundo lá fora pode ser interessante ocasionalmente, e que pode valer a pena. Aos poucos se percebe visível novamente.

3 comentários:

Veva disse...

melissa, minha grande companheira e motorista

Paola disse...

Melissa é uma baladeira misteriosa e observadora!
Adorei a sensibilidade que ela teve em perceber uma simples troca de olhares em meio a multidao que a cercava.
Agora vou esperar: A incrivel ida da Melissa a woods! Rs...

Juliana Golin disse...

Quem sabe... Acho que ainda a conhecemos pouco!