quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mais um Assalto

Terça-feira ensolarada na cidade grande. Uma garota saltitante caminha por um bairro-quase-nobre aproveitando o sol e pensando não na morte da bezerra, mas na possível tradução da prosa simbolista brasileira do início do século XX para o inglês. Por não se tratar de um assunto que se resolve em poucas quadras, a garota não percebe um cara estranho que se aproxima. É anunciado o assalto e a existência de uma arma que não dá o ar da graça em nenhum momento. A garota tem um momento inédito. Por algum tempo, não se sabe exatamente quanto, sua cabeça fica vazia. Não há nenhum pensamento. Não pensa em correr, chorar, gritar. Não pensa nem em dar o dinheiro e acabar logo com aquilo. Vazio.  Alguma coisa entre um transe e o estado de meditação. Até o assaltante fica irritado com a falta de qualquer reação: “Vamo guria!” e mexe no bolso onde está a suposta arma. Recuperando os sentidos a jovem abre a bolsa e dá o dinheiro que tem na carteira. O assaltante pega o dinheiro e sai, sem nenhuma pressa ou constrangimento, caminhando na direção oposta.

Neste momento a garota toma consciência do que acabou de acontecer e finalmente entra em desespero. Não pelo dinheiro perdido, que não foi muito, mas pelo medo concretizado da “falta de segurança pública” de todo pequeno-burguês neste país. Até este momento você deve estar pensando, grande coisa, isso acontece todo dia em toda a esquina. Mas o que acontece em seguida é que faz a leitura valer a pena.

Em prantos a garota sai andando, tomada por suas emoções, até um posto policial próximo. Mal conseguindo falar entre um soluço e outro ela conta aos policiais toda a história. Eles perguntam a roupa que vestia o vilão. Ela consegue resgatar dos registros daquele momento que sua cabeça pouco percebeu seu entorno. Jaqueta jeans e calça preta. Imediatamente dois policiais sobem em motos e saem na direção do assalto. Chegam à esquina de uma grande avenida e vêem o sujeito, que, de forma nada esperta, começa a correr assim que vê a polícia. Agora imagine a cena: um malandro correndo e dois policiais de motos que sobem na calçada perseguindo-o. O ladrão percebe que está em desvantagem e sai da calçada, passando a correr entre os carros que estão parados presos no transito. Derruba um senhor que veste um terno barato e carrega uma maleta. Este ao entender a situação agarra sua maleta e sai correndo atrás do ladrão para ajudar a polícia. Finalmente, no meio da avenida um dos motoristas agilmente abre a porta no exato momento em que o ladrão passava ao lado de seu carro, fazendo-o perder os sentidos e salvando o dia. Agora para nosso vilão só há um destino. Xilindró. 

4 comentários:

lú chueire disse...

Ju, vc escreve mto bem! Adoro! Fico sempre sem saber se é ou não real!

Juliana Golin disse...

Obrigada Lu! Digamos que é uma mistura entre real e imaginação.. hahaha

Kika disse...

otimo Ju!! Adorei.....maaassss...ser° q vai mesmo pro xilindrò??? tomara...hehehe

Veva disse...

Amei o senhor de maleta! Um atleta nato