domingo, 18 de setembro de 2011

Uma aventura em terras gringas

Quantas histórias têm guardada uma casa de 100 anos?    Quantas famílias, conversas, encontros e desencontros ela já presenciou? E agora está também impregnada com as minhas histórias. Escadas, sala, cozinha, móveis – ou a ausência deles, em todas as partes posso lembrar-me de muitos momentos, muitas pessoas. Fico feliz por estas paredes guardarem silêncio. Não que eu não tenha sido feliz aqui, mas algumas histórias devem ser guardadas com carinho.

E agora a história final. Partir. E não sem dificuldades. Partir para mim nunca é tão difícil. Já me acostumei a ir de um lugar para outro e me despedir. Já aprendi a desapegar do apego. Mas não é dessa dificuldade que estou falando. Acontece que esta casa foi alugada sem nenhuma formalidade. A proprietária é uma muito simpática mulher, que esteve sempre disponível para qualquer ocasião, principalmente cobrar o aluguel. Não foi feito contrato ou nada parecido. Eu mesma nunca fui muito adepta a burocracias. Na chegada foi feito um depósito caução, para o caso de algum estrago. Agora a simpática e disponível senhora sumiu com meu dinheiro. E para piorar tudo não estou em meu aconchegante país, mas num gringo hostil, onde tenho pouco ou nenhum direito civil.

Ela usa as armas dela e eu as minhas. Já que email e telefones não funcionam e eu não sei onde ela mora, apelo as mais incríveis e poderosas armas. Em primeiro lugar aquela que os mais impiedosos não hesitam em usar: Google. E não é que encontrei o endereço? A próxima arma já é um pouco mais rara, mas neste momento disponível: GPS.

Chegando à casa da criatura – e a esta altura já nem lembro de toda a simpatia – e depois de vencer os dois enormes e raivosos cães, ela aparece à porta com um sorriso. Convida-me a entrar muito gentilmente, como se eu fosse esperada. Eu sento no sofá e ela numa poltrona – quase um trono – e ao nosso lado Cindy, sua amiga e expectadora da linda cena que viria a desabrochar. Muito polida ela faz todo o discurso de como tentou entrar em contato. Eu ainda mais polida e sorridente falo que realmente deve ter acontecido uma série de desencontros, já que meu celular não registrou chamadas, não recebi emails e ela não me visitou desde que paguei a última parcela do aluguel. Foi uma incrível dança de polidas alfinetadas, tudo belamente encenado graças a nossa expectadora. Depois de contar sobre minha volta a meu país, meus planos de futuro e mais um saco de ladainhas, parti vitoriosa com meu cheque. 

Um comentário:

Veva disse...

Ju! Adorei a história, adorei o blog! Não podia ser mais sua cara! Agora podemos aprimorar nossos dons da escrita juntas! Eeeeeeee